Imagens: que papel exerce no cotiano humano?
Você sabia que as imagens cumpriram o seu papel singular em cada época histórica da vida humana? Você sabe o que são imagens? Você sabe ler imagens?
As imagens são representação do real. Mas o que é representar? É reapresentar a realidade. Há um elo de ligação potencial entre a realidade e a imagem. Assim, podemos ligar uma imagem a cultura de certo lugar, de uma época. Daí podemos depreender que um contexto específico pode gerar determinado tipo de imagem, bem como a imagem pode retratar a cultura, a realidade e etc. Ao nos deparamos com uma imagem, podemos ler o contexto que ela retrata. Entretanto, a leitura de imagens não deve ser feita aleatoriamente, mas a imagem tem que ser contextualizada para ser entendida.
Fazendo uma retrospectiva, podemos melhor compreender o papel fundamental da imagem através dos tempos até chega aos nossos dias...
As primeiras imagens que se tem notícia que foi produzida pelo ser humano são chamadas de artes rupestres. Você já observou as imagens das artes rupestres? E tentou perceber o que elas expressam? Nelas, o homem buscou retratar o seu cotidiano através da escrita imagética e deixar uma memória das relações sociais e cultura para as próximas gerações. Os seres humanos naquela época tiveram grande interesse em registrar através de imagens, uma espécie de escrita, os tipos de caça para sobreviver, os instrumentos e ferramentas que utilizavam, quais os perigos iminentes naquele habitat, entre outros.
O ato de desenhar tinha uma intencionalidade. Ou seja, a imagem naquela época serviu de memória da comunidade, forma de comunicação, expressão do cotidiano, cartografia do território, representação do real, um material educativo que poderia orientar os outros, uma espécie de assinaturas desconhecidas - a autoria era coletiva, não se sabe quem é o autor -, o contexto era coletivo (amplo). E as pedras (as rochas) serviam como suporte da arte tendo como características a visibilidade e a durabilidade e, as técnicas de pintura utilizadas eram os traços.
No Renascentismo, o homem utilizou não somente imagens, mas também esculturas (espécie de imagem). Ambas foram produzidas com o intuito de tentar representar algo, a vida cotidiana das pessoas daquele período (século XIV-XVI, idade média). O ser humano produzia as imagens com a intenção de servir de memória da comunidade, expressão do cotidiano, material educativo; mas assinaturas conhecidas (a autoria passa a ser individualizada, se sabe quem é o autor, por exemplo, obra de Michelangelo) e as telas são o suporte da arte renascentista (ou seja, a pedra produzida pelo próprio homem). É possível perceber algumas características da arte renascentista, a saber: as técnicas do produzir artístico ainda se mantinha os traços, mas começa a ter mudanças nas técnicas com a inserção de movimentos; pequenos detalhes e perspectivas (profundidade nas imagens); variedades de cores; representação de classes sociais, em que o homem passa a ser representado como o centro do universo; construção de vitrais, telas voltadas para a intimidade (individual).
Outro tipo de imagens muito utilizadas pelo homem foi as artes impressionistas (na idade moderna), em que o homem buscou representar além do seu cotidiano, aspectos da natureza. Assim, as paisagens retornam para o centro das imagens e paisagens informes (emergência da psiquê); há misturas das cores, movimentos; mudança nas técnicas, das cores; com a tendência da imagem retratar a visão ou impressão do artista sobre a realidade, mostrar as facetas do homem, da complexidade. Observa-se assinaturas por meio dos nomes nos registros ou na forma de registrar (tinta, pincel e o suporte, isso aproxima as escolas artísticas).
É possível ver que as artes fotográficas também constituem uma espécie de imagens produzidas pelo homem que se caracteriza pela objetividade e subjetividade, pois ao retratar a realidade a partir do seu olhar de artista escolhe, por exemplo, o melhor ângulo, a melhor luz para produzir a imagem. Um exemplo clássico, são as fotografias produzidas por Sebastião Salgado com a intenção de mostrar o que estava acontecendo com as pessoas em diversas partes do mundo cujas imagens fotográficas testemunharam a dignidade de toda a humanidade e a violação da mesma pela guerra, pobreza e outras injustiças sociais.
A imagem passou por diversas transformações ao ponto de chegar na forma televisiva, ou seja, imagem deixou de ser estática para assumir novas formas. Assim, a realidade passou a ser retratada a partir de um sistema eletrônico de imagens e de som de forma instantânea, assumindo uma forma dinâmica. A imagem televisiva é eletrônica, construída fragmentariamente por linhas de varredura que se formam da direita para esquerda, de cima para baixo, como a escrita ocidental. Entretanto, diferente da leitura que exige um esforço de atenção concentrada enorme, a televisão entra no ambiente doméstico num contexto difuso.
Até que chegamos na arte digital, em que as imagens passam por grandes modificações, ou seja, a forma de produzir imagens permite diversas possibilidades que na esfera analógica não se podia conceber e, pode migrar de um formato para outro. A fotografia quando digitalizada é quebrada pixel (menor partícula) por pixel, por exemplo. Isso revela um desprendimento do real, uma liberdade que muito foi buscada em outras épocas, pelas escolas artísticas anteriores. Isto é, a imagem antes era presa à realidade (contexto analógico), agora a realidade é quebrada e por isso não sabemos mais o que é real e o que é imagem. O homem continua a perseguir qual a menor partícula que formam o todo, por enquanto é o pixel. Hoje a imagem não representa necessariamente a realidade dado que as tecnologias digitais rompe com a realidade. Então, a simulação é uma coisa e a realidade é outra. Em cima da imagem se constrói a realidade. Isso nos leva a simulação. O que é simulação? É um modelo a ser reproduzido para gerar alguma coisa, que pode ser conhecimento, que pode interferir nas variáveis modificando-as através do uso de conhecimento (técnico, tecnológico, científico) para gerar mais conhecimento, para vender produtos e etc. Ou seja, as imagens são simuladas para vender produtos, produzir mais conhecimento, entre outros. Nesse contexto, também existe o simulacro que geralmente é usado em um contexto para modificar uma realidade com uma intencionalidade, por exemplo modificação de uma imagem para vender produtos, para fins comerciais e etc.
Segundo Serpa (2011, p.128), a invasão das imagens em todas as atividades humanas foi consequência das tecnologias desenvolvidas e utilizadas nos estudos da Física desde o início do século XX. E através da automação digital acelerou-se a leitura das imagens e através do analógico interligou-se diversos processos com linguagens distintas.
Assim o autor mostra que a física se baseou em imagens porque elas geram conhecimento, por exemplo radiografia, mamografia, ultrassonografia, em que o médico analisa essas imagens produzindo conhecimento sobre algum problema de saúde de uma pessoa para tratá-lo.
Então, percebemos que as imagens sempre fizeram parte do cotidiano dos seres humanos cumprindo o papel de produzir conhecimento. E no âmbito da educação podemos ver a importância das imagens desde a educação infantil que possibilita inserir os sujeitos no letramento ainda que não leiam convencionalmente, permitindo o trabalho da oralidade e da leitura estética, entre outros.
Saiba mais...
https://www.moodle.ufba.br/pluginfile.php/355309/mod_page/content/2/i_96201bdd/textos/imagem_paradigma_serpa.pdf
https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/14783/1/rascunho_digital.pdf
https://topicoespecialvideoarte.wordpress.com/2015/10/09/a-transformacao-televisionada-de-andy-warhol/
http://www.intercom.org.br/papers/nacionais/2006/resumos/R0638-1.pdf
Ótima síntese do que discutimos em aula Isa. Parabéns!
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